Dr. Salomão Kahwage Neto
A prisão de ventre ou constipação intestinal é quando a pessoa evacua menos de 3 vezes por semana ou precisa fazer muita força para eliminar fezes duras e ressecadas. é um sintoma frequente que incide numa parcela significativa da população ocidental, acometendo crianças e adultos, homens e mulheres, como expressão da dificuldade de evacuação intestinal. Resulta, geralmente, em número considerável de consultas médicas. O desconforto decorrente chega a interferir na qualidade de vida de muitos dos indivíduos que a apresentam, levando-os, inicialmente, a tentarem soluções através de acertos dietéticos e/ou medicamentosos por decisão própria ou sugestão leiga. Essa postura, pode encobrir as causas da constipação, retardando um diagnóstico etiológico mais preciso da disfunção e a conduta mais adequada. A constipação intestinal pode ser dividida em 2 grandes grupos – a constipação simples ou primária e a constipação orgânica ou secundária.
A constipação intestinal primária está condicionada a algumas variáveis relacionadas com o sexo, idade e raça. É mais frequente em mulheres, tendo início na idade escolar ou adolescência, acentuando-se progressivamente da idade fértil à velhice. Quanto à raça, não há predisposição específica, mas guarda relação estreita com os hábitos alimentares, poder aquisitivo e grau de desenvolvimento social. Observa-se sua baixa incidência, ou mesmo inexistência, nas populações rurais africanas alimentadas com dietas ricas em fibras. Ao contrário, é frequente em populações das grandes cidades ocidentais caracterizadas por pouca ingestão de água e fibras, sedentarismo, segurar a vontade de ir ao banheiro repetidas vezes e mudanças na rotina, viagens ou estresse e uso de certos remédios (por exemplo, analgésicos fortes, antiácidos com alumínio, suplementos de ferro).
A constipação secundária ocorre nos casos em que existe alteração orgânica bem definida e, neste caso, deve ser encarada como uma manifestação sintomática importante da doença que a produziu. A constipação de aparecimento recente, ou subitamente agravada, configurando uma mudança de ritmo intestinal, é sempre suspeita de ser secundária à lesão orgânica, merecendo, neste particular, toda a atenção para o câncer intestinal, que pode ter este aspecto como única manifestação inicial.
A história clínica cuidadosa é o dado de maior valia no diagnóstico da prisão de ventre, não devendo faltar ao médico o bom senso discriminador das variantes do normal, das influências da dieta ou da falta de exercícios físicos. Para a exclusão de processos orgânicos são usados diversos métodos diagnósticos, tais como: exames laboratoriais (principalmente para exclusão de disfunção da tireóide), estudo radiológico dos intestinos, a retossigmoidoscopia e a colonoscopia.
No tratamento da constipação intestinal simples adotam-se medidas que visem colaborar com os mecanismos fisiológicos da evacuação. São elas:
- As constipações funcionais geralmente apresentam grande melhora com alterações do estilo de vida, que incluem basicamente uma dieta rica em fibras (ameixa, kiwi, mamão, laranja com bagaço, uvas, manga madura) ingestão de dois litros de líquidos por dia e atividade física. As fibras são resíduos vegetais que passam quase que intactas através do aparelho digestivo, sem serem absorvidas.
- Reeducação intestinal. A indução lenta à criação de hábitos e horários, aproveitando-se o reflexo gastrocólico (que aparece após as refeições), constitui medida terapêutica útil. Deve-se recorrer ao banheiro sempre que ocorre vontade de evacuar. O relaxamento ou retardo dessa necessidade fisiológica predispõe, frequentemente, ao ressecamento e endurecimento das fezes, dificultando a evacuação.
- Mexa-se: caminhadas de 30 minutos ajudam o intestino a trabalhar.
- Alguns pacientes, no entanto, podem necessitar do uso de substâncias laxativas e purgativas como medida auxiliar para a correção da constipação. Diz-se de fármacos que são usados temporariamente, pois não possuem ação curativa e o seu uso crônico pode levar ao aparecimento do cólon catártico, condição clínica de difícil tratamento e com dependência de substâncias laxativas.
Quando procurar um médico
- Dor abdominal forte ou inchaço na barriga que não melhora.
- Sangue nas fezes ou fezes muito escuras.
- Perda de peso sem explicação.
- Constipação repentina em alguém que antes evacuava normalmente.
- Necessidade contínua de laxantes para evacuar.
Seguir essas medidas simples resolve a maioria dos casos. Se os sintomas persistirem ou vierem acompanhados dos sinais de alerta acima, busque avaliação médica para investigar outras causas e receber o tratamento adequado.