AVENIDA NAZARÉ, A AVENIDA DA FÉ
Aristides Dias
Depois de escrever uma crônica sobre a Travessa Padre Eutíquio, alguns amigos sugeriram para eu escrever sobre mais ruas de Belém, então resolvi escrever algo mais, dessa vez sobre a tradicional Avenida Nazaré.
O nome dado a ela já diz tudo, uma avenida carregada de histórias e muita Fé, pois leva o nome da padroeira dos paraenses, Nossa Senhora de Nazaré, a Rainha da Amazônia.
Nos primórdios da antiga povoação de Santa Maria de Belém do Grão Pará, era conhecida por Caminho da Utinga. No século XVIII, com o culto à Nossa Senhora de Nazaré que ocorria nas imediações desta via, convencionou-se chamá-la de Caminho de Nazaré, que também é nome do bairro, onde se localiza.
Quando cheguei em Belém, final dos anos 70, início dos anos 80, o sentido dela era São Braz/Pça. Da República. No primeiro governo do Edmilson foi mudado para o que é hoje. Lembro que certa vez um amigo vinha voltando da farra, tipo 5 da matina, no seu fusca envenenado” recentemente comprado e, ao dobrar a Nazaré com a Assis de Vasconcelos, capotou umas três vezes e quando os passageiros começaram a sair do veículo, sem nenhum arranhão, parecia pata quando está de cria, era um atrás do outro, mais de cinco no fusqueta.
Voltando para a Nazaré, a avenida começa bem na junção da P. Vargas e Assis de Vasconcelos. Logo no início tem o garboso Manoel Pinto, prédio que durante muito tempo foi um dos maiores do Norte (inclusive tem uma crônica sobre ele no meu livro). É justamente em seu início que começa a “reta final” da maior festa religiosa dos paraenses, o círio, cujo as homenagens são justamente para ela, Nazaré.
No primeiro quarteirão da avenida encontramos o Palacete Faciola, casarão histórico construído em 1901 no contexto da Belle Èpoque. Lá residiu o senador e intendente Antônio Almeida Fascíola. O prédio recentemente restaurado é hoje, uma das atrações turísticas da cidade.
Seguindo adiante vamos nos deparar com o prédio da TV Liberal, um dos grandes veículos de comunicação do Estado e bem ao seu lado a sede do Paysandu, um dos maiores clubes do Norte/Nordeste, com mais de 100 anos de história. É nesse quarteirão também, que eu já presenciei várias vezes o desatrelamento da corda do círio, a tradição de chegar até a praça santuário, já não existe mais, os cordeiros já começam a cortar a corda nesse quarteirão e o tumulto chega a ser grande. É uma nova fotografia do círio, os promesseiros da corda ensopados de suor, cortando um dos maiores símbolos do círio.
No mês de outubro a avenida ganha decoração com muitas luzes para celebrar a maior data religiosa do povo católico paraense.No dia do círio, por ela passam muitos devotos pagando promessas de joelhos, com livros, maquetes de casas, pernas e mãos de cera e tudo que se possa imaginar de um povo que tem Fé em sua padroeira.
Na esquina da Quintino Bocaiúva, destaque para o Solar do Barão de Guajará, prédio tombado pelo IPHAN onde hoje abriga a CODEM. Nessa esquina onde também é conhecida como o “Largo do Redondo” aconteceu o episódio histórico da política local, quando iria acontecer o comício de Carlos Lacerda, um pré-adolescente foi morto com uma bala perdida. O acontecimento chocou a cidade de Belém. Mais tarde esse adolescente virou nome de rua na capital que hoje se chama Osvaldo de Caldas Brito.
Seguindo em frente pela avenida, vamos nos deparar com dois tradicionais berços da educação paraense, Colégio Nazaré e Santa Catarina, formadores de várias gerações e até hoje são referências. Entre os dois prédios está a sede do Clube do Remo, também um dos grandes clubes do Norte/Nordeste com mais de cem anos de história. É bem em frente ao Remo que eu tenho o costume de ver a Nazinha passar. A rivalidade entre os dois maiores clubes do Pará, está até na Avenida, sem contar que os estádios também ocupam a mesma rua.
Depois dessas referências temos ainda o elegante restaurante Avenida, tradição da gastronomia belenense e, finalmente chega-se à praça Santuário. Nesse complexo existia os cinemas Nazaré, Ópera e Iracema, tríade de diversão para a geração da época. Dizem que tinha gente que depois da missa na Basílica, se mandava pro Ópera para assistir filme pornô.
Finalmente onde se encerra a avenida mais cheia de devoção de Belém, está o símbolo maior da Fé paraense, o Santuário de Nazaré, um dos prédios religiosos mais bonitos do país, onde tem delicadeza até no ecoar de seus sinos, onde reúne gente de todas as crenças, cores, raças e fé.
É isso mesmo. Viva Nossa Senhora de Nazaré!