Dr. Salomão Kahwage Neto
Estima-se que aproximadamente metade da população mundial sofra de algum distúrbio do sono. Esses distúrbios se relacionam a vários aspectos, como: à dificuldade de ‘pegar no sono’ ou permanecer dormindo; à sonolência diurna excessiva; à dificuldade na manutenção de um horário do sono e vigília; ao aparecimento de pesadelos e outros tantos sintomas. Pacientes com esses transtornos não só põem em risco a sua saúde como também a segurança pública, isso em razão dos freqüentes acidentes de trânsito e industriais relacionados à má qualidade do sono.
Atualmente conhecem-se vários distúrbios do sono; estes dividem-se como segue: a) os que provocam a redução do sono, como a insônia; b) os que conduzem ao aumento do sono, como a narcolepsia e a apneia do sono; e os que ocorrem durante o próprio sono sem alterar-lhe a duração, como o ranger de dentes – bruxismo –, o terror noturno e o sonilóquio.
Insônia é a diminuição total ou parcial da quantidade de horas de sono e qualidade desse sono no curso da noite. Disso vão resultar sonolências diurnas com conseqüentes prejuízos ao rendimento do trabalho, além de contribuir para acidentes de trânsito, alterações do humor e dos relacionamentos sociais.
Narcolepsia é o distúrbio do sono caracterizado por sonolência excessiva durante o dia – mesmo quando a pessoa dormiu bem à noite. Os ataques de sono podem acontecer a qualquer momento e em situações inusitadas: em pé, dentro de um ônibus; durante a consulta médica; enquanto dirigindo veículos automotores ou na operação de máquinas, por exemplo.
A Síndrome de Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS) é um distúrbio em que a respiração para repetidamente por ≥ 10 segundos enquanto a pessoa dorme. Essas pausas reduzem o oxigênio no sangue e fragmentam o sono, levando a cansaço durante o dia. Estima-se que 1 em cada 5 adultos tenha alguma forma de AOS moderada; homens, mulheres pós-menopausa podem ser afetadas. Os fatores de risco são: excesso de peso, pescoço largo, ronco alto, uso de álcool ou sedativos, tabagismo, congestão nasal crônica, histórico familiar, alterações hormonais (hipotireoidismo) e dormir de costas. As consequências da SAOS incluem: hipertensão arterial, complicações cardiovasculares, diabetes, ganho de peso. disfunção erétil e diminuição da memória. O diagnóstico é realizado pela polissonografia noturna em laboratório (exame padrão-ouro) ou poligrafia domiciliar (versões simplificadas). O tratamento inclui perda de peso, exercícios, e aparelhos de CPAP (pressão positiva contínua é o tratamento mais eficaz; uso diário). Roncar alto não é “normal” – pode ser sinal de apneia do sono. Diagnóstico e tratamento adequados melhoram a qualidade de vida e protegem o coração e o cérebro.
A Síndrome das Pernas Inquietas diz respeito a alterações da sensibilidade e desconforto nos membros inferiores. Ainda não se conhece a causa exata, mas há influência genética (um em cada dois pacientes tem familiar com o problema) e alteração nos níveis cerebrais de dopamina e ferro. Grávidas (sobretudo no 3.º trimestre), pessoas com anemia por deficiência de ferro, insuficiência renal, diabetes ou doenças da tireoide têm risco maior. As pessoas melhoram quando praticam movimentos. Embora os sintomas apareçam quase sempre à noite, podem manifestar-se durante o dia nos casos avançados. Compromete a qualidade de vida de seus portadores e a de seus parceiros. Primeiro, porque a agitação motora e os movimentos involuntários das pernas interferem no sono de ambos. Depois, porque muitos pacientes não conseguem assistir a uma simples sessão de cinema, ir ao teatro ou permanecer sentados por mais tempo durante uma reunião social ou de negócios. Também mantêm essa agitação dentro de automóveis ou mesmo aviões. Não há cura definitiva, mas os sintomas costumam ficar bem controlados com ajustes de hábitos, reposição de ferro (se estiver baixo) e, se necessário, medicamentos. É preciso não confundir esses distúrbios com certos movimentos rítmicos e repetitivos de uma pessoa que se encontra ou distraída ou muito tensa. Há quem balance as pernas enquanto lê, escreve ou assiste à televisão, mas isso nada tem a ver com a síndrome das pernas inquietas, até porque ditos movimentos – ao estilo cacoetes – desaparecem tão logo a pessoa se dá conta do que está fazendo. Se à noite suas pernas “não param” e isso atrapalha seu sono, procure orientação médica. Há tratamento simples e eficaz para voltar a dormir bem.
Na próximo artigo vamos falar sobre os outros distúrbios do sono como pesadelos, terror noturno, sonambulismo entre outros