E ASSIM SURGIU O PÉ NA COVA!
Aristides Dias
Era início da era 2000, e a profecia de que o mundo se acabaria nesses tempos tinha ido por água abaixo. Na verdade, surgia nessa época um grupo de amigos que já se conheciam de longas datas e resolveram criar uma tradição de se reunir todo sábado de carnaval, na casa de um jovem, não da mesma idade, mas de espírito, o Sr. Dete Teixeira e sua esposa Diva.
Era uma turma de quarentões mesclada com os de vinte e trinta cujo objetivo era viver a vida “numa boa”, principalmente em época momesca, onde a cidade de Óbidos vivia e ainda vive sua efervescência carnavalesca. O. encontro era regado a cerveja, churrasco e muita maizena, até a hora do bloco sair.
O tempo foi passando e os amigos se encontrando, fazendo do sábado gordo uma verdadeira confraternização no ritmo do renovado Carnapauxis.
A juventude da época hoje se tornara, pais, mães e avós e continuam com a mesma alegria de anos atrás, com o espírito de sempre querer ser feliz e viver a vida em sua plenitude. É verdade que nesse trajeto alguns se foram e deixaram grande lacuna na turma, como é o caso de Miguel Chaves e Botto, duas fortes colunas da alegria, mas e a vida o que é diga lá meu irmão, ela é a batida de um coração, já dizia a canção.
O estado de espírito dessa “jovem guarda” fala por si só, pois já foram “Menopausa” como equipe de ginkana, em alusão a idade das mulheres do grupo e depois foi “Viagra” também em ginkana, para homenagear os homens. Tudo com o intuito de se divertir de uma forma mais leve, e isso pode ser visto nas letras das músicas do bloco: “Lá vem o Pé na Cova, todo metido a bacana, os homens com a rola cansada e as mulheres só abanando a xana…”
Mas foi no quintal mais badalado de Belém, que surgiu o que é hoje um grupo de resistência para com as amizades entre os conterrâneos. O BLOCO PÉ NA COVA. Digo que essa galera é a única em Belém que se movimenta para reunir os conterrâneos em algum lugar, num clima de festa, por isso digo que é de resistência.
O quintal era o da Vila Pombo, onde morava o irreverente Miguel Chaves e família, era lá o ponto de encontro dos Pauxiaras, foi lá que começou o bloco dessa turma de gente bacana. De um detalhe de uma história surgiu a música feita também pelo irreverênte e criativo João Andrade (Bué) e que hoje se tornou hino da turma de agora, sessentões. A história contada pelo casal João e Tânia Andrade, diz que a música veio primeiro e o nome do bloco depois.
Para chegar até essa definição foi feito uma cronologia dos nomes já usados pela “tropa”: Menopausa e Viagra, então só podia vir na sequência o Pé na Cova.
Com o batismo do bloco que já estava com a música pronta, restava agora, participar novamente de mais uma ginkana, a saideira, para encerrar o ciclo de participação na brincadeira que animava a cidade de Óbidos no mês de julho. E assim foi.
Desde então o bloco ganhou corpo e foi crescendo a cada ano, onde os encontros em Belém passaram a se tornar com mais frequência, sempre prazerosos e com muita festa, principalmente a de final de ano com direito a bandinha de carnaval e tudo mais.
Foi então que surgiu a ideia de levar o bloco para o carnaval Pauxis, que estava a todo vapor, então cada um levou sua camisa para usar na brincadeira da casa do Jonildo (Bichinho), que passou a substituir a de seu pai, depois que ele nos deixou, a arte da camisa tinha assinatura do saudoso Luiz Igreja, que era apaixonado pelas coisas de Óbidos, inclusive o bloco Serra da Escama e que também nos deixou.
Depois o Bichinho deu uma parada nas brincadeiras em sua casa, e então o bloco resolveu fazer sua própria festa e manteve o sábado gordo como seu porto seguro. Logo a brincadeira ganhou corpo e o sábado passou a ser um dos dias mais esperados no Carnapauxis pelos foliões do Pé na Cova.
Vieram outras músicas, outras camisas, vários carnavais e a turma de gente bacana, sempre firmes, envolvidos pela amizade, continuou conquistando a simpatia dos amigos e dos amigos dos amigos (como mostra as fotos). E assim me vem na lembrança mais uma letra de uma canção que diz: “A amizade, nem mesmo a força do tempo irá destruir… quero chorar o teu choro, quero sorrir teu sorriso, valeu por você existir amigo.”, é por ai.
Diria que hoje o grupo está na cadência de Zeca Pagodinho com “Deixa a vida me levar, vida leva eu…”, mas levar suavemente, como a pluma que o vento vai levando pelo ar, sempre com leveza, alegria no coração, paz na alma e com o verdadeiro espírito PÉ NA COVA!
Imagens cedidas por João Andrade.