Aristides Dias
Ao final de mais um clico e início de outro em minha vida, vem uma retrospectiva de tudo que já vivi. Mesmo achando que ainda vou viver muitos mais, acabo concordando que já vivi bastante, mais de meio século e acho que tenho um pouco de história pra contar.
Certa vez, em uma entrevista ao jornalista Nicodemos, Ildefonso Guimarães fez uma síntese do que já tinha vivido. Disse ele em um dos trechos: “Pessoalmente, Nicodemos, não tenho do que me queixar de meu Século da Luz; se não me deu riquezas, berço de ouro, celebridade ou algum dos chamados ‘bens de raiz’, me manteve em seio sempre aconchegado, ao abrigo de grandes intempéries; a mente livre e a alma saída. Deu-me tudo o que eu precisava para fruir a vida: a capacidade aguda de senti-la, a acuidade de entendê-la em sua plenitude e a humildade de coração para aceitar os seus acertos e os seus revezes.”
Faço das palavras do grande mestre as minhas e digo que não tenho do que reclamar desses anos que Deus me deu. Não tenho “bens de raiz”, mas tenho uma família maravilhosa, que é a base de sustentação de qualquer ser humano, tenho os meus pais que Deus a cada dia me brinda com a presença deles. Digo sempre que sou diferente da grande maioria que acha que o ciclo da vida é você sair de casa, casar, ter filhos etc.
Na minha linha do tempo, fiz o trajeto contrário, não saí de casa, não tenho filhos e não casei, ainda. Aí eu me pergunto: como sair de casa se eu tenho a companhia maravilhosa, indescritível de meus pais e uma irmã que é pura luz? É muito amor envolvido. Acho que essa foi uma das missões que Deus me deu, cuidar de meus pais até a hora de ele chamá-los e farei isso com muito amor e, tenho certeza que minha irmã também.
Tenho a minha companheira amada, que também tem quase que a mesma missão que eu, e por isso vamos tocando nossos barcos em frente.
Dessa minha passagem por essa vida terrena, pude acompanhar a queda do muro de Berlim, o fim da ditadura a efervescência da MPB com os grandes festivais, ouvir Chico, Caetano, João Bosco, Djavan, Gal, Bethânia e muitos outros. A revolucionária internet e o aparelho celular. Também presenciei a partida de muitos com a triste pandemia, uma das maiores da história da humanidade, estive na reinauguração do novo Maracanã e vi o Brasil golear a Espanha, vi meu Remo ser campeão 100%, lancei um livro com minhas crônicas, cantei muito, fiz mais amigos do que inimigos, sem dúvida, editei um jornal impresso por mais de 25 anos, chorei, sorrir, pulei de alegria.
Assim sou feliz do meu jeito, sem querer copiar ninguém, somente do meu jeito. Hoje, mais um ciclo se fecha e novas portas e janelas se abrirão e assim sigo tocando em frente porque a vida é a batida de um coração e ninguém quer a morte, só saúde e sorte. VIVA A VIDA!