Dr. Salomão Kahwage
Quedas acidentais em idosos são eventos comuns e de grande impacto na saúde dessa população. Estima-se que, a partir dos 65 anos, aproximadamente um terço (30%) dos indivíduos experimente ao menos uma queda por ano, e esse índice aumenta com a idade e a presença de comorbidades.
Em pessoas com mais de 65 anos as complicações frequentemente associadas à queda representam um importante problema de saúde pública. As consequências podem variar de escoriações e fraturas (especialmente de colo de fêmur e punho), traumatismo craniano, além do medo de novas quedas, que gera redução da mobilidade e isolamento social. Esses desfechos aumentam o risco de dependência funcional e pioram a qualidade de vida.
A imobilidade secundária à queda pode contribuir para trombose venosa profunda, embolia pulmonar, pneumonia, internação em UTI e escaras (feridas) de decúbito. Embora a maioria das quedas não terminem em morte, elas não são eventos benignos. Nos EUA, aproximadamente 200.000 fraturas de quadril ocorrem a cada ano acometendo 84% das pessoas com mais de 65 anos. Aproximadamente 60% apresentam redução da mobilidade e 25% dos fraturados de quadril se tornam funcionalmente dependentes.
Uma série de fatores biopatológicos, que dependem do passar dos anos, faz com que o indivíduo idoso passe a dar-se conta do aparecimento de uma gradual deterioração que leva a diferentes graus de incapacidade. A diminuição da visão, da audição, a perda da concentração, a instabilidade motora, a hipotensão postural (queda da pressão em pé) e a perda dos reflexos contribuem em grande parte para provocar quedas acidentais, possibilidade que aumenta com avançar da idade. Na comunidade, a maioria das quedas ocorre em casa em locais como escadas e quartos. As atividades comuns relacionadas aquedas incluem sentar-se ou levantar de camas e cadeiras; tropeçar em objetos da casa ou revestimento do assoalho, como tapetes e carpetes; escorregar em superfícies molhadas; usar calçados inadequados e descer ou subir escadas. O excesso de medicamentos que os pacientes tomam aumenta o risco de queda, principalmente os tranquilizantes e indutores do sono.
Reduzir ao mínimo os fatores predisponentes, tanto os que se referem ao indivíduo (intrínsecos) como os que dependem do meio (extrínsecos), constitui, evidentemente, a prevenção primária ideal. O tratamento dos distúrbios intrínsecos irá depender de um diagnóstico médico correto. As áreas ambientais principais que contribuem para as quedas são superfícies no chão, iluminação, escadas, banheiros, camas, cadeiras e prateleiras. Os obstáculos à segurança nestas áreas devem ser identificados e eliminados através de modificação ambiental. Os princípios de segurança e função devem prevalecer sobre a aparência estética ao selecionar a mobília, iluminação, revestimentos do chão e aparelhos de segurança. As superfícies no chão não devem estar molhadas ou muito enceradas. Convém que pisos de granito ou lajotas vitrificadas sejam evitados. Contorna-se, também, a redução para uso de carpetes muito espessos ou tapetes sem revestimento antiderrapante. Toda iluminação deve ser controlada por interruptores de parede de fácil acesso. A cor dos espelhos dos interruptores tem que ser contrastante com a cor das paredes para permitir fácil visibilidade. As escadas devem ser adequadamente iluminadas; pontos de luz podem ser posicionados no topo e embaixo da escada. É aconselhável o uso de tiras adesivas não escorregadias, paralelas às bordas dos degraus. A instalação de corrimãos em ambos os lados das escadas ajuda as pessoas idosas a usarem esse meio com segurança. Os corrimãos devem ser redondos, fincados na parede, aproximadamente 80cm mais altos do que as escadas, e instalados a uma distância suficiente da parede para permitir que sejam agarrados com firmeza. No banheiro, os suportes para toalhas devem ser substituídos por barras com presilhas não escorregadias. Faixas de borracha adesivas antiderrapantes, ou um tapete de borracha com fixadores de sucção devem ser colocados no chão do chuveiro. Cadeiras ou bancos de banheira ou chuveiro devem ser usados se o paciente não tem força ou equilíbrio para ficar de pé durante longos períodos. O paciente pode cair ao ir para camaou sair dela se for muito alta ou muito baixa. A altura da cama, de aproximadamente 45 cm a partir do chão até a parte de cima do colchão, garante uma movimentação segura. A altura da cadeira deve ser ajustada para assegurar que, quando o paciente estiver sentado, seus pés estejam firmemente plantados no solo com os joelhos fletidos a 900. Os apoios de braço devem ser colocados a aproximadamente 17 cm acima do assento, e devem se estender 2,5 a 5cm além da borda do assento, isso comoforma de conferir uma ação de alavanca máxima. As prateleiras que forem muito altas ou muito baixas podem contribuir para a perda de equilíbrio do paciente quando ele se estende ou se inclina para alcançar objetos. Utensílios de uso freqüente devem ser colocados em níveis que permitam à pessoa evitar inclinação excessiva. As prateleiras e armários da cozinha devem estar entre o nível dos quadris e dos olhos. O uso de “pegadores” manuais ou dispositivos com garras permite que o paciente alcance objetos de lugares altos ou baixos sem comprometer a segurança.
A prevenção envolve avaliação periódica do equilíbrio e da força muscular, revisão de medicamentos, correção de problemas visuais, adaptação do ambiente domiciliar (como instalação de corrimãos e pisos antiderrapantes) e programas de exercícios específicos para idosos, voltados ao fortalecimento e ao treinamento proprioceptivo. Políticas de saúde pública e orientação familiar são essenciais para reduzir a incidência de quedas e suas complicações.