O MEDO DO “MASCARADINHO”
Aristides Dias
O carnaval da minha época de criança em Óbidos, era diferente do formato atual. O silêncio dos domingos momescos eram rasgados pelos apitos e bexigas dos “mascarados fobós”. Sem contar do “macacão” arrastando corrente pelas ladeiras da cidade, parecia cena de filme de terror.
Os “mascarados” se aprontavam bem antes do bloco sair. Era tradição saírem pelas ruas da cidade dando bexigada, jogando maizena e botando moleque pra correr, que era o meu caso.
Eles realmente assumiam o protagonismo da festa e desfilavam em bandos, que nem os periquitos da antiga sumaumeira da praça da Basílica de Nazaré, com seus apitos ensurdecedores e suas doloridas bexigadas. Mais tarde se juntavam aos foliões nos blocos de ruas, que vinham de mulheres e outras fantasias, tudo ao comando das bandinhas.
Por isso a figura do “mascarado” se tornou o ícone da atual versão carnavalesca obidense. Mas ficou só nisso. As novas gerações que vieram não curtem brincar de mascarado, tanto que, essa figura icônica só sai em maior quantidade na segunda-feira gorda, onde o bloco responsável exalta o “palhaço amazônico” e assim se revive os velhos carnavais. Mas, durante o pré-carnaval a figura do “mascarado” é espécie em extinção.
Voltando a minha época em Óbidos, quando já “taludinho”, não tinha mais medo dos mascarados e curtia suas performances. Certa vez, eu e um amigo, ouvimos uns apitos vindo da igreja de Sant’Ana. Corremos pra lá e nos deparamos com mais de trinta mascarados, logo veio aquela adrenalina e meu amigo querendo mostrar que já estava grandinho, resolveu tirar a máscara de um “mascaradinho”, menor que a gente, que vinha na frente, do outro lado da rua, todo serelepe com seu apito, bexiga e maizena na mão, além do capacete que o deixava um pouco mais alto.
Ao tirar sua máscara, pra sua surpresa, era um amigo nosso brabo, que não contou conversa e saiu pra cima dele dando socos. Ele sabendo já quem era, não duvidou, voltou com mais de mil para a sua casa, com medo do “mascaradinho”.
Desde então nunca mais ele quis se arriscar tirar a máscara de alguém. É aquele ditado, nunca ninguém sabe quem está por trás de uma máscara, é melhor esperar ela cair.