DA JANELA LATERAL

Aristides Dias

Quem não fez uma traquinagem quando criança que atire a primeira pedra. Vou narrar uma das várias que fiz.

Devia ter meus 9 anos e estudava no Grupo Escolar José Veríssimo, numa turma de 20 a 30 alunos, essa turma a maioria já estudava junto desde o pré-primário, diga-se de passagem, ou seja, uma molecada entrosada.

Estudava de manhã e era um dia normal de aula e, enquanto aguardávamos a chegada da professora, a molecada se espalhava na sala de aula, uns correndo outros pulando, fazendo coisas de criança. Eu e um amigo fomos para a janela lateral que dava para a rua Justo Chermont. Ao chegarmos no local, nos deparamos com uma senhora varrendo tranquilamente a calçada de sua casa, do outro lado da rua. Sabíamos que essa senhorinha tinha uma alcunha que o deixava bravíssima, ao ponto de perder o controle de suas emoções, aliás, a cidade toda sabia.

Ao vê-la incitei meu amigo a chamá-la pelo seu pseudônimo, ele na mesma hora chamou. A altura não foi o suficiente para ela escutar, então falei: “fala mais alto, ta com medo?”, então ele soltou a voz como se fosse um tenor em plena ópera. Dessa vez não tinha como não chegar aos seus ouvidos, e chegou.

Ela olhou em direção a janela, com sangue nos olhos e atravessou a rua, rumo a escola. Já me tremendo de medo, fui olhar na porta da sala, para ver se ela estava vindo mesmo pra escola, quando cheguei na porta ela vinha adentrando o portão, como um touro quando ver uma bandeira vermelha.

Eu, de imediato corri para a última janela da sala que dava acesso ao corredor, subi na carteira e fiquei de mutuca, assim que ela entrou na sala eu pulei para o corredor e saí correndo rumo a sala do pré-primário, que ficava nos fundos da escola. Chegando lá, a professora percebeu meu nervosismo e perguntou o que estava acontecendo, então disse a ela que a tal senhora estava na sala de aula.

Desde quando eu pulei aquela janela, não soube mais de nada o que tinha acontecido. Depois que fui saber pelos meus colegas, já adulto, o sufoco que eles passaram. Era uma gritaria, choradeira na sala, o terror foi instalado, a escola parou. Uma das minhas colegas, já depois de adulta veio me falar que a senhora ficou correndo atrás dela em volta da mesa do professor com um canivete na mão.

Até que chegaram alguns colegas apavorados com a diretora e relataram o que estava acontecendo. A gestora educacional era a primeira-dama do município. Foi então que ela acionou o prefeito, que correu pra lá e contornou a situação.

Depois veio a “conta”. A professora perguntou quem tinha feito aquela palhaçada e a turma apontou o meu amigo, que tentou dizer que eu tinha participação no caso, mas não adiantou, não deram ouvido pra ele, então ele foi levado para a diretoria para receber seu castigo. Uns dias depois, continuaram as investigações e vieram direto comigo me perguntar se eu tinha participação no episódio, confirmei a minha participação e peguei uma pena mais branda. O meu amigo que acabou ficando com o ônus da traquinagem.

Até hoje, meus colegas dessa época, se lembram desse caso que ficou marcado na nossa memória.

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